Câncer de mama: não enfrente sozinha

Imagine-se numa estrada longa e difícil, a qual você percorre sozinha. Não há com quem falar, nem um ombro para se apoiar. Agora, imagine-se na mesma estrada, porém com muitas amigas por perto, que lhe estendem a mão, oferecem um ombro amigo, riem e choram contigo. Pois é essa segunda estrada que percorre o grupo de apoio a mulheres que tiveram Câncer de mama, criado pela Unimed. Toda semana, elas se encontram no Espaço Vida, onde trocam confidências, muitas das quais nem aos familiares revelam.

Foi essa estrada cheia de amigas a escolhida por Dália. Ela conta que teve seu diagnóstico de Câncer de mama há três anos e meio. Para ela, estar nesse grupo é falar a mesma linguagem, é ajudar-se mutuamente. "Hoje não consigo ficar sem vir aqui. Abro mão de qualquer coisa para estar aqui", salienta. Dália destaca que o grupo é importante pela solidariedade que oferece, pela amizade, pelo apoio psicológico. "A psicóloga sempre nos transmite apoio, tranqüilidade. Ela está sempre com os ouvidos abertos para nos ouvir, disposta a nos amparar, além de nos oferecer o ombro para chorar, sempre com muita serenidade", salienta.

Rosa também participa do grupo mesmo após estar curada. Ela teve seu diagnóstico há mais de 20 anos, uma época em que não se tinha muita informação sobre essa doença, muito menos grupos de apoio. "Foi um tempo muito difícil. A palavra Câncer apavorava. Mas, graças a Deus, estou aqui", salienta, destacando a importância de um grupo como esse. Para manter sua saúde, Rosa faz seus exames médicos anuais, além de praticar exercícios regularmente e se alimentar bem.


Alegria ajuda a viver melhor
Jovem e cheia de energia, Hortênsia, de 35 anos, teve seu diagnóstico em agosto de 2007. O medo maior era fazer a quimioterapia. "Eu acha que aquilo ia me matar. Eu ouvia falar de reações horríveis", relembra. "Mas fiz a primeira sessão e não tive reação, nem enjôo", conta. Com a filosofia de viver a vida sempre numa boa, Hortênsia mantém-se sempre brincalhona, mesmo após passar pela retirada da mama e estar fazendo quimioterapia. "A mama não me faz falta. Com o sutiã de enchimento, ninguém nota a diferença", conta alegre com o disfarce. Perguntada se fará uma reconstrução futura, diz que talvez, mas bem mais no futuro. "O que me incomoda mesmo é o meu cabelo", diz passando a mão na cabeça raspada. "Mas ele vai crescer de novo", completa com um sorriso.

Também participante do grupo, Margarida conta que recebeu o diagnóstico há nove anos. "Quando o médico disse que teria de tirar a mama e isso deveria ser logo, eu pensei em morrer. Fiquei em choque, traumatizada", conta. Margarida já tinha feito biópsia várias vezes e nada havia sido encontrado. Porém, agora, tinha uma semana para se decidir a tirar a mama. "Quando cheguei em casa e contei, minha família ficou muito triste. Passei uma semana muito triste. Aí pensei: não sou a primeira nem a última mulher a passar por isso. Na semana seguinte, voltei ao médico e marquei a cirurgia", relata, salientando que não se pode deixar abater.

Hoje, Margarida já não se incomoda de usar enchimento no sutiã. "As pessoas nem notam que não tenho um seio", declara passando a mão no peito. Depois disso, Margarida já fez a retirada de nódulos da região das axilas por cinco vezes, mas benignos, felizmente.


Duas vezes na mesma estrada
Para ser considerada curada do Câncer, o paciente precisa fazer tratamento e depois consultas regulares para acompanhamento por cinco anos. Para muitos, a angústia termina no quinto ano, embora tenham de se cuidar para sempre. Para outras, a luta pode recomeçar. Foi o que aconteceu com Líria, que teve seu diagnóstico de Câncer de mama há três anos. Ela fez o tratamento e ingressou no grupo de apoio. Há quatro meses, estava com dores no quadril e fez diversos exames, mas nada de significativo foi revelado. Foi então, quando menos esperava, que foi diagnosticado, na região do peito, próximo à terceira costela, o novo Câncer. "Achei o que não procurava", disse, silenciando.

"Segunda-feira (24/3) começo o novo tratamento", contou às amigas do grupo, que ainda não sabiam do novo diagnóstico. "Está sendo uma semana difícil", desabafou, segurando as lágrimas. Também em silêncio, as amigas ouviram suas palavras, respeitando seu momento. E prontamente todas deram apoio e afirmaram que estariam juntas nessa nova caminhada.

Líria confessa já ter chorado muito, mas não perdeu a fé. Ela procurou ajuda espiritual para enfrentar esse momento, mas sem deixar de lado os encontros com as amigas. "Passei muito mal, mas estou aqui", enfatizou, destacando que está pronta para recomeçar sua luta contra o Câncer.


Apoio psicológico é fundamental
A psicóloga e psicanalista Maria Paulina Hummes Pölking é a orientadora do grupo de apoio a mulheres que tiveram Câncer de mama, que se reúne semanalmente no Espaço Vida Unimed. Paulina relata que o grupo proporciona a troca de solidariedade, quando uma ajuda a outra, dando apoio, carinho. E mais, ajudam-se mutuamente a cuidar da saúde do corpo e também da saúde emocional, cultivando a esperança e o otimismo. "Quem se gosta se cuida", afirma. Paulina ensina que é preciso enfrentar o Câncer sem medo, sem receio, sem terror. "O que a gente trabalha aqui são os sentimentos, hoje damos muitas risadas juntas, mas também virão momentos difíceis, e estaremos juntas para enfrentar esses dias."

O diretor de Medicina Preventiva da Unimed Vale do Caí, médico Dirceu Mauch, explica que o diagnóstico precoce é fundamental para a cura de qualquer doença, em especial, o Câncer. "Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais rápido será realizado o tratamento e da forma menos traumática possível", enfatiza. Por isso, recomenda que as pessoas cuidem de sua saúde, façam as avaliações médicas regulares, assim como exercícios físicos e mantenham alimentação balanceada.


Quem pode participar do grupo
Qualquer mulher que tenha tido Câncer de mama pode participar do grupo. E não precisa ser usuária Unimed. Basta comparecer ao Espaço Vida Unimed na rua Osvaldo Aranha, 1719, esquina com Buarque de Macedo. O encontro ocorre sempre nas segundas-feiras às 14 horas. O telefone de contato é 3649-3040.

O primeiro encontro ocorreu no dia 12 de março de 2007, sendo que o primeiro ano de atividades foi festejado nesta segunda-feira, dia 17, com torta e chá. Estavam presentes 12 mulheres, de um grupo com integrantes dos 32 aos 70 anos. Mas o número varia conforme a semana, pois algumas, às vezes, têm compromisso e não podem comparecer.

Durante o ano, elas desfrutam da companhia e apoio uma das outras, além de momentos de informação técnica, quando nutricionistas, oncologistas, ginecologistas entre outros profissionais fazem palestras de esclarecimentos e orientação.

Obs.: A pedido das entrevistadas, os nomes das pacientes citadas nessa matéria são fictícios.



Por Dina Cleise de Freitas
Publicado no Jornal Ibiá em 22/03/2008 - Cadernos - Vida Sadia