Fazer artesanatos pode ser uma boa terapia

Reprodução da página impressa
Enquanto alguns nem podem se imaginar rodeados por linhas e lãs em dias de verão, outros não conseguem se imaginar sem elas, mesmo sob forte calor. Inclusive, o tricô e o crochê, além de outras técnicas de artesanato, são facilmente vistos até na praia. Aliás, uma oficina de artesanato é uma ótima forma de terapia em grupo. Entre um ponto e outro, a aplicação de uma miçanga ou pinceladas sobre uma tela, conta-se histórias de vida, conversa-se sobre diversos temas e dá-se muitas risadas. E a terapia continua em casa, quando se está só, imergindo na arte e esquecendo dos problemas.

O empresário Robson Nunes Moreira, que possui comércio de linhas, lãs e aviamentos em geral na Timbaúva, destaca que muitas de suas clientes fazem compras regulares, até três vezes na semana. "Brincamos dizendo que são compulsivas", conta. "Uma cliente era muito depressiva, entrava na loja, não conversava e saía muda. Agora chega sorrindo", relata. Para muitas dessas clientes, o artesanato é uma razão a mais de viver. "Temos uma senhora que compra miçangas de várias cores e pede para colocarmos todas num saquinho só. Ela diz que a terapia dela é separar depois", enfatiza, revelando satisfação de ceder espaço para cursos na área.

A artesã Luci da Silva, 65, é professora de artesanato desde 1973. Ela faz de tudo, como tricô, crochê, bordado, pintura, decoração de chinelos. E adora. E, assim como suas alunas, gosta de estar sempre fazendo algo, mesmo quando está assistindo à televisão ou viaja. Luci nunca teve problemas de saúde, como Depressão, mas relata que a maioria de suas alunas procura seus cursos por estarem deprimidas ou com outros problemas. "Para a maioria, fazer artesanato é uma terapia", confirma. Inclusive, sabe de alunas que tiveram resultados tão bons que passaram a se dedicar ao artesanato e ganharam uma fonte extra de renda. "É muito bom e faz muito bem", salienta.


Uma forma rentável de driblar a rotina

A dona de casa Magali Santos, 63, é um bom exemplo de mulher que pinta, borda, faz tricô, crochê e ainda trabalha com madeira e MDF. "Eu faço de tudo", resume. Ela começou a fazer artesanato porque se sentia muito sozinha. Estava ficando depressiva quando descobriu a habilidade de transformar linhas, lãs, pedrarias e tinta em lindas telas, caixas, panos de prato decorados, entre outros.

Seu marido trabalha em turnos. Por isso, fica muito sozinha em casa. Ela checou até a tomar remédios para dormir. Era hora de achar algo para fazer. "Eu substitui os remédios pelo artesanato", salienta. "Comecei sozinha, para me ocupar. Hoje tenho verdadeira paixão", revela. Agora Magali está tão bem organizada, que tem atividades todos os dias. "Se não faço, sinto que estou perdendo meu tempo". Inclusive ganhou uma fonte de renda extra, sendo que quase não dá conta de atender todos os pedidos que recebe.

Mas, enquanto Magali faz artesanatos há muitos anos, a manicura Marília Silveira, 22, dá seus primeiros passos no ramo. Ela sabe fazer crochê, o que aprendeu sozinha e com algumas dicas da mãe, e procurou o curso de artesanato em chinelos para se distrair e aprender algo diferente. "Vou fazer um para mim, para minha mãe e minha sogra", conta. Mas ela não descarta fazer mais para vender. "Estou gostando". Agora, entre o atendimento de uma cliente e outra, pode aproveitar os intervalos e os dias de folga para uma atividade diferente, além de ter uma nova possibilidade de renda. "Não é muito fácil, mas é muito bom ver o resultado depois de pronto", salienta.


Atividade para fazer em família

Para Liliane Nunes, 39, artesanato é um tratamento. Ela é técnica de Enfermagem, mas mudou de profissão há um ano, passando a atuar no departamento de RH de uma empresa. E conta que nunca conseguiu tirar férias nesses anos todos. Então precisou fazer uma cirurgia de Hérnia de Disco, o que lhe está obrigando ficar em licença saúde. "Estou com seis parafusos na coluna", conta. Para aplacar a angústia de ficar em casa, Liliane buscou um curso de pedraria em chinelos. "É uma ótima terapia. Eu não preciso nem de remédios", conta. Também já fez curso de caixas de madeira. "Se eu ficasse só em casa, sem dúvida, estaria irritadíssima", salienta.

O resultado tem sido tão bom para Liliane, que ela levou sua mãe, Ireni Mello, 57, para o curso. Ireni é vendedora numa loja de confecção e até já se imagina vendendo chinelos decorados. "Vim por causa da minha filha, mas estou gostando muito". Ireni, que nunca teve problemas de saúde, relata que a convivência em grupo está lhe fazendo muito bem. Mesmo destacando que não é tão fácil quanto parece, diz que é prazeroso decorar os chinelos e até pensa em continuar fazendo para vender.

Outra que tem gostado das aulas é Marlene Tenório, 68, sogra de Liliane. "Ela estava meio deprimida com a mudança de casa. Nem queria mais sair. Agora está mais empolgada, o curso já está fazendo bem", salienta Liliane. Dona Marlene mudou-se recentemente, deixando o bairro Municipal para morar na Osvaldo Aranha. E agora "quer novidades em sua vida", como ela mesma diz. "Eu já fiz curso de bolsas, crochê e tricô. Eu faço um pouco de casa coisa", completa.


Por Dina Cleise de Freitas
Publicado no Jornal Ibiá em 12/02/2011 - Cadernos - Vida Sadia