Psoríase: a pior consequência ainda é o preconceito

Reprodução da página impressa
Uma doença que está estampada na pele, para quem quiser ver. E mostrá-la é justamente a pior parte para quem tem Psoríase. A secretária e estudante de Direito Ariane de Azevedo Cunha, de 26 anos, sabe bem o que é isso. Há 8 anos, ela explica para as pessoas o que são aquelas manchinhas rosadas que descamam nos braços e na barriga. "Quando eu soube que era Psoríase, e que não tem cura, foi horrível", revela. "Eu tinha 18 anos e disse para a médica que nunca mais ia sair de casa", completa. Porém, com o tempo, Ariane foi aprendendo a lidar com a desinformação dos outros. "Toda vez, eu tenho de explicar: é Psoríase, não pega", salienta.

Hoje Ariane mantém sua doença controlada, mas nem sempre é fácil. Como as causas estão associadas à imunidade de seu organismo, basta ela sair do controle para a doença se manifestar de forma mais intensa. Por exemplo, na época do vestibular, estava muito estressada, tanto pela prova quanto pelos olhares que receberia se houvesse muitas manchas na pele. Resultado: precisou aumentar as idas à médica e as doses dos medicamentos homeopáticos que usa para manter seu sistema emocional equilibrado.

Mas o pior está por chegar. É no período do verão que os problemas de Ariane aumentam, pois chega o tempo de roupas curtas e maior exposição do corpo. O período também a faz lembrar de momentos de grande desconforto, como ocorreu quando mais jovem. "Eu estava com minha mãe na piscina, e uma mulher chamou a coordenação do clube para me tirar de lá, pois pensou que era uma doença contagiosa", relembra Ariane.

"Naquela época, e ainda hoje, muita gente não sabe que doença é essa e, principalmente, que não pega", salienta Ariane.


Falta de informação causa constrangimentos

Quem ainda não conhece a funcionária pública municipal Ivone Gonçalves, de 51 anos, de Montenegro, pode pensar que seja uma pessoa de poucas palavras, que só usa roupas compridas, que mantém sempre os braços cruzados e as mãos escondidas. Mas quem a conhece sabe que se trata de uma pessoa super divertida, falante, com muitas histórias para contar.

O problema é que ela tem seu corpo tomado pela Psoríase. Como Ivone possui pele negra, a doença fica ainda mais visível, uma vez que é caracterizada por manchas rosadas (quando a pele está bem hidratada) ou esbranquiçadas (quando a pele está muito ressecada). Qualquer uma dessas duas tonalidades se destaca demais em Ivone.

E cansada de ficar dando explicações sobre o que são aquelas marcas, que não se trata de uma doença contagiosa, e abatida pelo efeito estético negativo em um mundo que prima tanto pela beleza, Ivone prefere tapar-se. Na verdade, é uma forma de autopreservação. A Psoríase é agravada pelo desequilíbrio emocional. Então ficar se expondo a olhares de reprovação só faz aumentar a tristeza e, por consequência, o número de manchas pelo corpo, num efeito bola de neve.

Qual a melhor coisa a fazer, então? Não mostrar o corpo, evitar dar explicações. "Já vivi diversas situações em que ficaram me olhando de alto a baixo, com aquele olhar de reprovação. Isso é terrível", confessa Ivone. "E não adianta ir dizendo que não pega, que é Psoríase. Nem todos acreditam que tu estejas falando a verdade", completa, lamentando a falta de grupos de divulgação da doença. "Assim como tem o grupo do Diabetes, dos Hipertensos, deveria ter grupos de portadores da Psoríase, para levar informação às pessoas", analisa Ivone.


Doença não pega por talheres nem na piscina

Nesta sexta-feira, dia 29 de outubro, comemorou-se o Dia Nacional e Mundial da Psoríase, uma doença inflamatória crônica e recorrente, que acomete a pele, as unhas e as articulações. Apesar de ser comum, ainda é pouco conhecida pela população em geral. "É uma doença muito comum, chegando a acometer de 1% a 3% da população", revela a dermatologista Themis Getsos Colla, que atende em Montenegro. Mas, atenção ao mais importante: "A Psoríase não é uma doença contagiosa, não é transmitida por toalhas, talheres, nem pela água da piscina", enfatiza Themis.

A dermatologista explica que existem várias formas de apresentação, sendo a mais comum chamada de Psoríase Vulgar, que se caracteriza por lesões bem delimitadas, avermelhadas e com descamação grosseira sobreposta. E acomete tanto homens quanto mulheres, igualmente. E pode surgir em qualquer idade, desde a infância até a velhice, mas é mais frequente entre a terceira e quarta décadas de vida.

"A transmissão da doença é hereditária, mas há necessidade de estímulos ambientais para que a doença se manifeste", salienta Themis, esclarecendo que pode ser desencadeada por traumatismos diretos na pele, infecções, tabagismo, alcoolismo, estresse e uso de determinadas medicações. "Na maioria das vezes, não apresenta sintomas, mas pode ocorrer coceira de intensidade variável", salienta.


Formas de tratamento


Conforme Themis, o objetivo do tratamento da Psoríase é melhorar a qualidade de vida do paciente. "Muitas vezes, o paciente pode ficar sem lesão ou com o mínimo de lesão possível", explica. Esse tratamento pode ser feito com medicamentos locais, terapia à base de luz (fototerapia), comprimidos e também medicações injetáveis conhecidos como imunológicos. Mas é fundamental fazer uma consulta para avaliação minuciosa de cada caso.

Por Dina Cleise de Freitas
Publicado no Jornal Ibiá em 30/10/2010 - Cadernos - Vida Sadia